Disciplina - Ciências

Ciências

19/01/2015

Fim da Aranha-marrom

O fim da aranha-marrom está próximo
Por Fernanda Trisotto (Gazeta do Povo)

Base aromatizada, pesquisada na UFPR, pode dar cabo a aracnídeo temido na cidade.

Atualmente, o jeito mais eficaz de matar uma aranha-marrom, dessas que se esgueiram em armários e dentro de sapatos em Curitiba, é com uma chinelada e suas variáveis. O método, no entanto, poderá ser substituído em breve. Isso porque pesquisadores do Paraná descobriram uma mistura de produtos naturais que é eficaz contra o aracnídeo. Quando exposta à fórmula, a morte da aranha é certa. O desafio agora é transformar isso em um produto que possa ser usado em casa e tenha efetividade.

O químico Francisco de Assis Marques, do Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador da pesquisa, explica que o projeto começou há um tempo num grupo que busca alternativas para controle de pragas. Na época, o grupo estudava um repelente para o mosquito Aedes aegypti. Quando fizeram um teste – um dos pesquisadores, o doutorando Vinícius Annies, passou o produto no braço e colocou-o em uma gaiola com mosquitos – notaram que além do efeito de repelência, os mosquitos também morreram em contato com a substância. “Funcionava e ainda era composto de produtos naturais”, ressalta.

Foi ideia do biólogo Eduardo Novaes Ramires, da UTFPR e Faculdade Espírita, testar esse composto em outros animais que estavam no laboratório: a aranha marrom e o escorpião amarelo. “Deu certo. Então, começamos uma série de testes e verificamos que havia potencial [para desenvolver o produto]”, conta. A partir de então, começaram as tentativas para encapsular as substâncias naturais visando aumentar a eficiência da formulação final, e transformá-lo em um produto que possa ser usado em casa.

Em outubro de 2014, os pesquisadores chegaram a duas fórmulas, que ainda estão em teste. O desafio é fazer um produto eficiente. Ramires explica que a aranha-marrom possui um exoesqueleto bastante impermeável, o que dificulta a ação pesticidas usados contra a aranha. Por isso, os cientistas estão trabalhando com a estratégia de encapsular as substâncias em pequenas cápsulas, invisíveis ao olho nu. O objetivo é que as cápsulas tenham aderência ao corpo da aranha e, gradualmente, liberem o veneno até que o animal morra.

Marques explica que eles trabalham agora para encontrar a ‘dosagem’ certa do composto, a quantidade a ser encapsulada que será eficaz para matar a aranha, e também para melhorar a aderência de cada cápsula ao corpo da aranha. “É mito que nada mata a aranha marrom a não ser a chinelada. Descobrimos que um pesticida encapsulado também era eficaz”, conta o químico.

O problema é que o produto comercial usa piretroide, que apresenta certa toxicidade ao ser humano. A inovação dessa pesquisa é que estão sendo usadas substâncias naturais de baixa toxicidade ao ser humano. Uma delas é atualmente empregada como principal componente de um famoso perfume e a outra como aromatizante usado na indústria de alimentos para dar sabor de uma fruta a balas e gomas de mascar.

O composto, descoberto em uma pesquisa financiada pelo CNPq e Fundação Araucária, já está com o pedido de patente depositado no Brasil e no exterior. “É a primeira vez que temos a possibilidade de matar a aranha marrom com um produto natural. Já é uma pesquisa belíssima, mas como a ciência vai conseguir chegar à sociedade? É o que temos para resolver”, diz Marques.

Esta notícia foi publicada em 19/01/2015 no site www.gazetadopovo.com.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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