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Ciências

30/07/2015

Aleitamento Materno

Pesquisa revela mais benefícios do aleitamento materno
Por Raquel Duarte, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto

Pesquisa na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP constatou que o aleitamento materno, além de todas as vantagens insistentemente divulgadas, também está ligado às menores taxas de diarreia aguda, infecções do trato respiratório, otite média e outras infecções, e à menor mortalidade de crianças por essas doenças. Os resultados mostraram, ainda, que crianças que não mamaram tiveram 2,6 vezes mais chances de ter diarreia.

Outros dados chamaram a atenção, como a constatação de que o uso da chupeta, especialmente durante o dia, pode elevar em quatro vezes as chances de a criança parar de mamar o peito, quando comparada com crianças que não usam. E, ainda que as crianças que não usaram mamadeira apresentaram 16 vezes mais chances de receberem o aleitamento materno.

O estudo foi feito pela enfermeira Floriacy Stabnow Santos, na cidade de Imperatriz, no Maranhão. O interesse da enfermeira pelo tema se deu por não existir uma pesquisa sobre essa temática naquele município. “Apesar desses dados refletirem o que outros estudos encontraram em vários municípios do país, Imperatriz tem condições de vida preocupantes, quanto a situação socioeconômica, infraestrutura entre outros, além do que o índice de aleitamento materno exclusivo entre crianças de seis meses é de apenas 2,8%”, diz.

Imperatriz é a segunda cidade mais populosa do Estado, com mais de 250 mil habitantes, localizada na divisa com o Tocantins e a cerca de 600 quilômetros (km) da capital, São Luiz. Seu Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) que avalia saúde, educação e renda, e divulgado no Atlas Brasil de 2013 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), é de 0,731, que leva a cidade a ocupar a 993ª posição entre os 5.565 municípios brasileiros.

A pesquisadora coletou dados sobre a importância do aleitamento materno em menores de um ano de idade, e os benefícios que essa pratica traz, associando os tipos de aleitamento com os casos de diarreia aguda. “O leite materno é um alimento indispensável no início da vida do recém-nascido, pois, oferece substâncias nutritivas, que fazem o bebê criar anticorpos”, lembra Floriacy.

As vantagens dessa prática, diz a pesquisadora, são: a satisfação do instinto materno, a redução do estresse e mau-humor, a sensação de bem-estar, devido à liberação endógena de beta-endorfina, a promoção da contração uterina pela ocitocina liberada com a sucção do bebê e suspensão da menstruação no período em que a mulher está amamentando exclusivamente.

Perfil

Para a participação da amostra da pesquisa, foram exigidos critérios como: a criança e seu acompanhante, sejam pais, irmãos, avós, tios, mães adotivas ou babás, estarem cadastrados na Estratégia Saúde da Família (ESF), ser residente da zona urbana de Imperatriz, e a criança deveria ser menor de 1 ano de idade.

A pesquisa foi realizada com 854 crianças menores de 12 meses de idade, 441 menores de seis meses, e 413 de seis meses a 12 meses. No momento da coleta de dados, das 854 crianças menores de 12 meses de idade, 128 não recebiam aleitamento materno. As demais, recebiam algum tipo como: exclusivo, predominante, misto ou complementado.

Floriacy lembra que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida da criança, e complementado por outros alimentos até aos 2 anos de vida ou mais.

Diarreia aguda e maturidade materna

A diarreia aguda foi identificada em 196 crianças. Entre as de seis a 12 meses, 145 crianças tiveram diarreia.  A idade materna foi significante para a incidência da diarreia aguda. “Quanto maior a idade materna, menor risco a criança corre de apresentar diarreia aguda. Estudos mostram que a falta de conhecimento materno devido à baixa escolaridade e à pouca idade podem contribuir para o aparecimento de doenças na criança, especialmente, a diarreia aguda, já que pode ocorrer uma falta de entendimento sobre os cuidados com a criança, no que diz respeito à higiene e à alimentação”, afirma a pesquisadora.

Dentre as crianças com diarreia, 22 necessitaram de hospitalização, sendo 5 menores de 6 meses e 17 de 6 a 12 meses. A pesquisadora conta que a complicação mais frequente da diarreia é a desidratação, que pode levar a criança ao óbito.

Segundo Floriacy, as doenças diarreicas podem acontecer em consequência de vários fatores como: toxinas bacterianas, infecções virais, parasitas intestinais, intolerância a derivados do leite pela incapacidade de digerir lactose (açúcar do leite), e infecções por bactérias como a Salmonella, que é uma doença infecciosa transmitida ao homem por meio da ingestão de alimentos contaminados com fezes animais, e a Shighella, uma bactéria que pode contaminar os alimentos e causar diarreia.

Leite materno

Durante o começo da vida do bebê, vários alimentos e produtos são oferecidos para a substituição do leite materno, como por exemplo a chupeta, mamadeira e alimentos que são designados como complementação alimentar, mas estes são considerados fatores que dificultam a amamentação.

A pesquisadora diz que a introdução de outros líquidos, como água e chá, pode ser considerada como um erro, pois quanto menos forem oferecidos, maior a chance da criança amamentar. “Para as mães, muitas vezes o leite não é suficiente, e para saciar a sede de seus bebês oferecem os demais líquidos. Isso é muito presente na cidade de Imperatriz e as mães justificam a atitude por conta de a cidade ser muito quente”, conta Floriacy.

Para enfermeira, os demais alimentos não têm benefícios e o uso de alimentos complementares antes dos seis meses não traz proveito nutricional para as crianças, podendo ocasionar malefícios à saúde”.

Em 2005 o Ministério da Saúde lançou um guia alimentar que foi reeditado em 2010 com os Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para crianças menores de dois anos: um guia para o profissional da saúde na atenção básica. “Segundo esse guia, após os seis meses a criança pode receber complementação alimentar. A mãe deve introduzir outros alimentos de forma lenta e gradual, mas, evitando a introdução de açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas. Sal e gordura, usar com moderação”.

O estudo de doutorado Aleitamento materno e diarreia em menores de um ano de idade em Imperatriz – MA foi feito na EERP, com orientação da professora Débora Falleiros de Mello. A defesa aconteceu em abril de 2015.

 Esta notícia foi publicada em 27/07/2015 no site usp.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor. 
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