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Ciências

21/03/2009

Pesquisador do CNPq participa de debate sobre doping cerebral

A possibilidade de se usar medicações para melhorar a performance intelectual, memória e atenção em pessoas saudáveis é tema de discussões no mundo inteiro. A revista Nature, uma das mais famosas em publicações científicas, publicou uma série de correspondências em sua edição de janeiro com o objetivo de promover o debate a respeito deste assunto tão polêmico, o chamado doping cerebral.
Especialistas do Brasil, dos Estados Unidos, da França e Inglaterra enviaram correspondências à revista para discutir as implicações médicas, éticas e sociais do uso indiscriminado de estimulantes para melhorar o funcionamento do cérebro.
João Ricardo Mendes de Oliveira, professor do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pesquisador do CNPq e do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika), foi o único especialista brasileiro a participar deste debate na Nature.
A participação brasileira contribuiu para fortalecer as discussões no país sobre o uso clandestino que fazem estudantes, executivos, médicos plantonistas e diversos outros profissionais de medicações que atualmente são prescritas para doenças como Alzheimer, transtornos de sono e déficit de atenção (TDAH). A intenção desses usuários é aumentar sua capacidade mental.
“O procedimento consiste em tentar otimizar, por meio do uso de medicamentos prescritos em algumas doenças neuropsiquiátricas, o potencial do cérebro de pessoas saudáveis. Mas estes remédios só podem ser vendidos sob prescrição médica e nunca são usados sem sintomas. Assim, o mercado negro tem crescido muito, já que as pessoas tentam se valer do doping intelectual em véspera de provas, concursos ou em períodos de grande carga de trabalho e atividades de alta demanda cognitiva”, afirma o pesquisador.
De acordo com João Ricardo, as drogas mais comuns são rivastigmina, metilfenideto e donezepil. “Usuários eventuais relatam que sentem aumento da capacidade de atenção, reflexo, diminuição da distração e maior velocidade na associação de ideias, chegando eventualmente a uma resposta mais rápida para qualquer tarefa”, pontuou.
Mas a segurança é a maior preocupação dos pesquisadores, visto que o uso indiscriminado de tais medicamentos para melhorar a performance pode desencadear transtornos mentais. João Ricardo alerta que os medicamentos podem provocar diversos efeitos colaterais, como insônia, agitação psicomotora, alteração do comportamento, psicose e problemas gástricos.
Para o pesquisador, há uma chance real de os indivíduos que usam alguns destes medicamentos aprenderem mais rápido ou com menos esforço do que outros, mas ainda não se sabe quais efeitos serão produzidos na saúde pública futuramente:
“O mundo de hoje já vive em ritmo muito acelerado. A nossa rotina atual de competição e demanda mental já diminuiu drasticamente o tempo disponível para a família, o lazer e o sono. Assim, a questão fundamental é saber qual será o impacto dessas drogas nessa rotina frenética que já temos”.
Além disso, o pesquisador afirma que certas características são muito mais importantes para a vida do que o uso de estimulantes para o cérebro, tais como a disposição para se superar, o estabelecimento de metas desafiadoras, tenacidade nos objetivos, autoconfiança, iniciativa e também resistência à frustração. “Aprendemos com as tentativas anteriores para sempre melhorar, sem esquecer que a vida é bem mais do que sucesso ou aprovação social”, finaliza João Ricardo.

Fonte: Assessoria de Comunicação Social do CNPq

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