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Ciências

31/01/2013

USP usa raios gama para esterilizar mosquito transmissor da dengue

por Giuliana Miranda (Folha de S.Paulo)
Enquanto na ficção a radiação gama conferiu poderes extraordinários ao Incrível Hulk, na vida real ela ajuda a dificultar a vida do mosquito da dengue, prejudicando sua capacidade reprodutiva.

Cientistas do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) da USP de Piracicaba desenvolveram uma técnica que usa radiação para tornar o Aedes aegypti estéril.

Usando uma fonte de Cobalto-60, os pesquisadores fazem uma espécie de "bombardeio" de raios gama no inseto. A técnica, chamada de irradiação, já tem uso consagrado em várias outras aplicações, inclusive na indústria de alimentos.

A dose de radiação usada é considerada baixa e não mata o mosquito, mas é suficiente para torná-lo estéril.

"A técnica é perfeitamente segura. Não há risco para o ambiente, porque a radiação não deixa nenhum tipo de resíduo perigoso", explica Valter Arthur, coordenador do estudo.

A irradiação é feita só nos mosquitos machos, quando eles atingem a chamada fase pupa, em que já estão com todos os órgãos formados, mas ainda não são adultos.

A criação dos insetos é feita nas instalações de uma empresa parceira, a Bioagri, em Charqueada (interior de SP).

Depois do processo, os mosquitos irradiados são soltos no ambiente, onde competirão com os machos normais pela cópula com as fêmeas. As relações chegam a acontecer, mas os ovos decorrentes delas não eclodem, o que ajuda a controlar a população dos insetos.

Antes de testar os mosquitos em ambientes "reais", os pesquisadores precisam verificar se os exemplares de Aedes aegypti estéreis são tão competitivos sexualmente quanto os outros.

Essa etapa está prestes a começar, mas o trabalho já foi apresentado na última edição do Congresso Brasileiro de Entologia.

De acordo com Ademir Martins, pesquisador do instituto Oswaldo Cruz que não participa do trabalho, métodos bastante similares já tiveram bastante sucesso no controle de pragas agrícolas.

"A técnica andou meio esquecida, mas agora está ressurgindo em alguns trabalhos", avalia o cientista.

Segundo ele, um possível inconveniente é a baixa autossustentabilidade do método, uma vez que é preciso ficar constantemente irradiando e liberando machos inférteis nos ambientes.

Os últimos testes com uma vacina para a dengue, doença que mata 20 mil pessoas ao ano no mundo, fracassaram em 2012. Hoje, há várias iniciativas que investem no controle do mosquito.

No Brasil, duas outras estão em testes. A Fiocruz trabalha inserindo uma bactéria que torna o mosquito "vacinado" contra a dengue. Na Bahia, há uma "fábrica" de mosquitos transgênicos, que dão origem a filhotes incapazes de sobreviver.

Editoria de Arte/Folhapress

Esta notícia foi publicada em 22/01/2013 no site www1.folha.uol.com.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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